João Roque Dias: “O Tradutor, o Cliente e o Dinheiro de Ambos”

João Roque Dias:

“O Tradutor, o Cliente e o Dinheiro de Ambos”

 Por: Alexandre Santos*

Habitualmente, quando se pensa em conferências ligadas à área da Tradução, pensa-se em um grupo de académicos a discutir ideias de nomes ligados à área da Teoria. Ou, como tem sido o caso de algumas conferências mais recentes, pensa-se logo que “eventualmente alguém irá trazer o assunto do acordo ortográfico e ficamos aqui até à hora do jantar”. Quando a Professora Susana Valdez anunciou que a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa iria receber, a 19 de Fevereiro, o senhor Engenheiro João Roque Dias para, utilizando as suas palavras, “falar de dinheiro”, era de esperar que este evento acabasse por ser algo de diferente.

Quando cheguei ao edifício ID, pronto para duas horas que me aguardavam mas, ironicamente, sem saber o que esperar, deparei-me com a Dra. Susana Valdez e o Engenheiro Roque Dias à porta do edifício. Um senhor alto, com uma figura séria, mas que imediatamente quebrou o gelo ao perguntar-me “Esta conferência é sobre dinheiro. Trouxe dinheiro, certo?”. Imediatamente sorri, mas ainda não sabia o que me aguardava.

Após se apresentar, o senhor Engenheiro mencionou que já fora convidado pelo Professor David Hardisty, para falar sobre unidades de medida no que toca à tradução a uma turma que, inicialmente se questionava “O que é que eu estou aqui a fazer?” mas que, no fim da sessão, afogaram-no com questões e observações, notando a utilidade destas e a sua má aplicação no mundo da tradução. E começou a sua apresentação com a seguinte frase: “O verdadeiro especialista é aquele que sabe onde pode errar.”

A conferência foi mencionada como sendo a terceira vez que este tópico seria abordado, tendo-o feito pela primeira vez na mesma faculdade em 2008, seguida de outra apresentação em Londres, foi iniciada com a inesperada mostragem de um par de rolos de papel higiénico pretos (rolos esses que prometeu oferecer a quem soubesse responder a uma questão no fim, cumprindo essa promessa de uma forma engraçada). Este exemplo serviu para nos apercebermos e podermos diferenciar entre um serviço (neste caso o papel higiénico, que é um bem essencial) e um mero produto (papel higiénico preto, decorado, que custa o triplo do preço).

Para além deste exemplo, Roque Dias tentou também demonstrar (através de uma comparação chocante com um mundo onde a socialite Paris Hilton decidia ser uma tradutora que prestaria os seus serviços gratuitamente), que o tradutor deve fazer sentir que o seu trabalho é, sem dúvida, um serviço, algo essencial, e não apenas um produto qualquer, pois é algo impossível de armazenar para uso futuro e que é prestado por alguém a mando de alguém. Também clarificou que o nosso tempo é também outro tipo de produto, um bem não-renovável, que é possível comprá-lo mas não renová-lo e que um prazo é a melhor coisa que pode acontecer a um tradutor, pois sem prazos o tradutor simplesmente não vive.

De seguida, procedeu-se à aprofundação da noção de tradutor em termos pragmáticos e de mercado e, principalmente, qual a melhor maneira de definir um tradutor: como um cabeleireiro (aqui ouviram-se uns suspiros de surpresa). Quando se vai cortar o cabelo, sabemos exactamente o serviço que vamos adquirir e o dinheiro que vamos gastar nesse serviço (um valor fixo, ou baseado em horas). A tradução deveria ser exactamente o mesmo, mas o mercado “habituou-se” ao sistema de palavras e deve-se lutar para quebrar esse hábito. Contudo, nunca se deve baralhar um cliente, pois “… um cliente maluco é o nosso maior inimigo.”

A conferência baseou-se principalmente no conceito “Nós é que somos os chefes da nossa vida e nós é que decidimos quanto devemos ganhar como tradutores.” Roque Dias também deu o conselho vital de que nunca se deve fazer um negócio “passar fome” e, comparando um negócio às calorias mínimas necessárias para o corpo humano sobreviver, argumentou que, apesar de se poder ganhar menos que o mínimo sustentável um dia, fazê-lo continuamente iria resultar em falência, apresentando uma proposta de uma taxa horária mínima para sustentar este argumento, com a seguinte fórmula:

 

Quando dei por mim, já se aproximavam as 18 horas, e parecia que nem meia hora tinha passado. João Roque Dias falara de forma tão motivante, acessível e até relaxada, mostrando o quão confortável se sentia com o assunto e, ao mesmo tempo, o quão fortemente defendia as suas posições, que cativara a sala de mais de 40 lugares, que enchera de tal forma que conseguia estar fechado dentro de um círculo pessoas, quer estas estivessem sentadas ou em pé, sempre atentas, a rir-se com exemplos caricatos seus, ou meramente a contemplar as suas escolhas já tomadas, ou até mesmo escolhas futuras. Interagia frequentemente com os membros da audiência, dispensando formalidades e tratando-nos por um confiável “tu”, o que transpirava ainda mais a sua acessibilidade e vontade em motivar. Até mesmo no fim, durante a sessão de questões, mostrou-se confortável e disponível para qualquer questão, não discriminando entre o aluno de primeiro ano, que provavelmente ainda não tivera o seu primeiro contacto com a prática da tradução, e a tradutora, certificada e formada, com vinte anos de experiência.

Em suma, foram duas horas da minha vida imensuravelmente rentáveis. Posso não ter ganho um único cêntimo físico desta conferência “sobre dinheiro”, mas todos os conselhos, exemplos e tópicos abordados valerão possivelmente milhões de euros, para todos os que decidirem seguir as palavras de João Roque Dias. Mas, tal como este afirma: “Explicar preços por palavra a um cliente directo é como explicar linguística a zebras.

 

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Alexandre Santos é Tradutor Freelancer desde 2011, com experiência em tradução académica, principalmente de artigos científicos. É licenciado em Tradução (Inglês/Francês) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde é actualmente mestrando em Tradução – Área de Especialização de Inglês. Tem também publicações na área da Literatura e Cultura Norte-Americana, e pesquisa nas áreas da Linguística e dos Estudos de Tradução. Para mais informações visite: http://pt.linkedin.com/pub/alexandre-santos/78/2b0/83

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Para descarregar a apresentação do Eng. Roque Dias: http://bit.ly/1jMroe4

Procuram-se Tradutores (09-11-2013)

Alemão – http://www.empregosonline.pt/760/DetalheJob760.aspx?idOferta=483f403f-163a-4fea-ad5b-73b50eab4f78

Turco e Português – http://www.proemprego.pt/job/247601-tradutor-a?utm_source=trovit&utm_medium=other&utm_campaign=xml

Português e Italiano (Freelancer) – http://www.net-empregos.com/1842562/precisa-se-tradutor-italiano-portugues-urgente/

Inglês (Nativo) – http://www.net-empregos.com/1841527/tradutor-nativo-de-ingles-m-f-em-carcavelos/

Tradutor/Intérprete (Alemão) – http://www.net-empregos.com/1840871/tradutor-interprete-mercado-alemao-m-f-00108-28/

 

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